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ambiente | abertura

Vale a pena investir num mundo melhor?

Hoje a humanidade está mais consciente sobre o efeito da sua atividade sobre o nosso planeta. Mas ainda há muito a fazer para assegurar o futuro da natureza e das próximas gerações





Onovo paradigma das sociedades desenvolvidas começou com a publicação, em 1962, do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Foi com o seu lançamento que a humanidade começou a tomar consciência dos problemas da poluição e degradação do ambiente. O título é uma referência à morte de aves devido à contaminação com pesticidas usados na agricultura e o primeiro capítulo, “Uma fábula para o amanhã”, uma descrição romanceada de um lugar sem vida.

Na década seguinte o mundo presenciou a existência de chuvas ácidas, que se formam devido ao excesso de enxofre e azoto reativos (SO2 e NOx) e a ações para as controlar a partir de tecnologias que reduzem as suas emissões para a atmosfera. Também se começaram a promover técnicas de saneamento básico para controlar a poluição da água. Nessa altura já existia o conceito de proteção ambiental, mas ainda com um sentido restrito, pois partia do pressuposto que as técnicas de redução da emissão de poluentes eram suficientes para manter o equilíbrio do ambiente.

A implantação de energias renováveis, como a solar e a eólica, continuou a um ritmo acelerado, mesmo durante os confinamentos relacionados com a Covid-19

Os grandes desastres da década de 80

Só que os grandes desastres ocorridos na década de 80, como o de Bhopal, na Índia, mostraram que o trabalho feito até ali para a proteção do ambiente ainda estava muito longe daquilo que era necessário. Neste acidente em particular, o gás venenoso que escapou de uma fábrica de pesticidas, propriedade da multinacional Union Carbide, de origem norte-americana, durante a noite de 2 de dezembro de 1984, matou imediatamente pelo menos 8000 pessoas. E o número de mortos cresceu para 22.000 nos doze anos seguintes.

O desastre de Chernobyl, na Ucrânia, e o derrame de petróleo do Exxon Valdez na Enseada do Príncipe Guilherme, no Alasca, no dia 24 de março de 1989, responsável por um dos maiores desastres ecológicos da história, contribuíram ainda mais para mostrar que havia muito a fazer. Foi com base neste contexto que a ideia de desenvolvimento sustentável surgiu no início da década de 90. Acrescentou, à proteção ambiental, a necessidade de preservar os recursos naturais e a qualidade dos ecossistemas atuais para as gerações seguintes, para além do compromisso entre a qualidade do ambiente, a prosperidade económica e a equidade social.

894

MILHÕES
Volume, em toneladas, de emissões equivalentes no primeiro trimestre de 2024

O ambiente na economia

Foi também no final do segundo milénio que Michael Porter, docente da Harvard Business School, lançou a base económica para o ambiente ser considerado parte integrante dos modelos e decisões económicas, ao sustentar que uma regulação ambiental exigente pode induzir eficiência e encorajar a inovação, promovendo a competitividade comercial das empresas. Esta ideia teve terreno fértil no início do século 21, com a economia do carbono, que valoriza economicamente a redução de gases com efeito de estufa como medida para controlar o aquecimento global do Planeta.

Mas aquilo que é necessário fazer não é apenas um trabalho e não depende apenas das pessoas. A solução para um futuro mais sustentável passa pela mudança de paradigma de produção e consumo, sobretudo em matéria de energia, e pelo próprio modelo de desenvolvimento. Deve envolver também empresas e outras organizações e governos, ou seja, todos.

A descarbonização da economia é um desafio gigantesco. Há cenários, como o da Agência Internacional de Energia (AIA), que defende que este é essencialmente um desafio energético, que nos apontam o caminho seguir. Com isto em mente, os decisores políticos de todo o mundo procuram acelerar a adoção de tecnologias e garantir uma transição ordenada para novas indústrias de energia limpa, permitir a inclusão e a justiça e manter a segurança energética como parte do Cenário de Emissões Líquidas Zero.

Sabia que:



– Para se alcançar 50% de redução das emissões de CO2 em 2050 é necessário um investimento de mais de 270 000 000 milhões de euros.

– Redes inteligentes de produção energética poderiam reduzir as emissões entre 0,9 e 2,2 gigatoneladas (mil milhões de toneladas) por ano em 2050.

– Em 2030, 10% dos resíduos globais da agricultura e floresta podem fornecer cerca de 50% da procura de biodiesel no cenário previsto pela Agência Internacional de Energia para manter a temperatura global 2ºC acima da era pré-industrial.

– Cada ano de atraso no esforço global para mitigar as mudanças climáticas custa mais 500 mil milhões de dólares (cerca de 350 mil milhões de euros) para o investimento em energia limpa necessário em 2030.

– Em 2030 podiam ser poupadas anualmente 8.2 gigatoneladas de CO2 se as recomendações da Agência Internacional de Energia ao G8 fossem implementadas globalmente.

Fonte: Agência Internacional de Energia.

No final do segundo milénio que Michael Porter, docente da Harvard Business School, lançou a base para o ambiente ser considerado parte integrante dos modelos e decisões económicas

O custo da descarbonização

Do lado positivo, a implantação de energias renováveis, como a solar e a eólica, continuou a um ritmo acelerado, mesmo durante os confinamentos relacionados com a Covid-19, com a AIA a prever um forte crescimento para os próximos anos. Por outro lado, não foi suficientemente rápida para acompanhar o aumento da procura durante a recuperação económica de 2021 e uma quantidade significativa de procura de energia teve de ser satisfeita com base na queima de carvão. Para além disso, “a descarbonização de sectores como os transportes e os edifícios não está a ocorrer com rapidez suficiente e não há investimento suficiente nas tecnologias do futuro, necessárias para completar a transição para um futuro com emissões líquidas zero”, revela um documento da Agência Internacional de Energia. Por isso, os governos devem agir rapidamente para implementar políticas que possam colocar as emissões globais num declínio sustentado nos próximos anos.

5,2

MILHÕES
Número de pessoas empregadas no sector de bens e serviços ambientais na UE em 2021

O custo previsto, de 7,6 biliões de euros, é astronómico. Mas se for enquadrado em termos da soma do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países do mundo, representará, efetivamente, um arrefecimento da economia de 1,5% em 2030. Segundo Filipe Duarte Santos, professor catedrático de Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, vai ser necessário investir também mais na eficiência energética. E esta depende muito da sensibilização das pessoas para o uso de sistemas mais eficazes, que representam, para elas, uma economia real. A questão que está em cima da mesa é se vale a pena fazer este esforço e deixar, para as novas gerações, um mundo com menor risco no que respeita às alterações climáticas e seus impactos sobre as atividades económicas e ambiente, ou se, pelo contrário, vamos ter uma perspetiva de curto prazo, e não vamos investir o suficiente para resolver o problema. Mas tudo tem de começar por nós. Aquilo que precisamos mais é de continuar a mudar a nossa forma de pensar as coisas, especialmente sobre a forma como e onde vivemos, trabalhamos e viajamos. Isto, sem esquecer o que e como consumimos.

Seis formas de reduzir a sua pegada de carbono

Quer poupar algum dinheiro enquanto contribui para a conservação do ambiente? Basta fazer algumas alterações na forma como age em sua casa para reduzir a sua pegada de carbono. São apenas algumas ideias que podemos sugerir:

Use os dedos – Quando baixa o termóstato do seu calorífero dois degraus no inverno e sobe o seu ar condicionado dois degraus no verão, pode poupar cerca de 900 kg de emissões de dióxido de carbono por dia.

Desligue – As luzes artificiais representam 44% das necessidades de energia elétrica dos edifícios. Por isso, habitue-se a desligá-las quando sai de qualquer gabinete. Faça o mesmo com os aparelho elétricos. Desligue as fichas dos seus quando não os está a usar.

Use água fria – O uso de água fria pode poupar até cerca de 80% da energia necessária para lavar roupas. Escolher um programa de menor consumo na máquina de lavar também ajuda a poupar água.

Mude para faturação eletrónica – O papel representa uma parte significativa do lixo municipal e as cópias de faturas geram emissões de CO2. Nos Estados Unidos, dão origem a quase dois milhões de toneladas de emissões por ano. Por isso, poupe papel optando pelas faturas eletrónicas sempre que puder.

Compre local – Hoje, com o comércio mundial de alimentos, alguns destes viajam milhares de quilómetros antes de chegarem a casa de cada um. Ao comprar produtos da região e do país, cada um de nós come alimentos mais frescos, contribuindo também para a poupança de energia e água na sua deslocação.

Recicle – Podemos reciclar, garrafas e sacos de plástico, papel, produtos eletrónicos e baterias, vários tipos de vidro. Aprenda a forma de separar os seus desperdícios, reduzindo o seu volume de lixo.

Fonte: World Wildlife Fund