O Alentejo empreendedor
O Alentejo é muito mais do que uma região de gente boa, de boa comida e de paisagens únicas que vale sempre a pena visitar. É um território em desenvolvimento crescente, alicerçado, sobretudo, no Porto de Sines, na grande Albufeira do Alqueva e nas excelentes ligações rodoviárias que unem o seu interior.
Q uando se fala do Alentejo, aquilo que vem logo à memória é uma planície sem fim, ornamentada de colinas, num ondulado a perder de vista, que acalma e causa em cada um de nós vontade de lá voltar. Não só por isso, mas também pelas suas aldeias e vilas de casario branco, aqui e ali embelezado por barras coloridas, e cidades com rico património histórico e cultural, como Elvas, Portalegre, Évora, Beja e Sines, que vale sempre a pena descobrir. Acrescente-se a isso uma gastronomia de sabores únicos, enriquecidos pelos temperos das suas ervas e a mestria das suas cozinheiras e cozinheiros, assim como os produtos principais da sua agricultura – o vinho, o azeite e a sua carne de ovinos, bovinos e suínos –, e belas praias de areia branca, para garantir que o Alentejo tem muitos argumentos para atrair turistas nacionais e estrangeiros. Para os receber, a região já oferece uma grande variedade de estabelecimentos hoteleiros de qualidade, do interior ao litoral, e propõe ofertas de experiências únicas, desde o enoturismo às viagens de balão.
Mármore e cortiça
A maior reserva de mármore do país encontra-se no subsolo do Alentejo, mais precisamente no anticlinal de Estremoz, que abrange, para além deste concelho, os de Borba e de Vila Viçosa. Trata-se de uma matéria-prima – mármores brancos, cremes e rosas, entre outros – cuja qualidade rivaliza no mercado mundial com outras zonas de extração reconhecidas, como Carrara, em Itália, por exemplo.
Uma das marcas da paisagem alentejana são as florestas de azinheiras e sobreiros, em sistema de montado, que dão à sua paisagem uma singularidade única. Portugal é não só o maior exportador mundial de cortiça, onde se situa mais de 30% da área mundial de montado de sobro, como 84% dos seus sobreiros se encontram no Alentejo. O território produz grande parte da matéria-prima que depois é transformada na Região de Entre Douro e Vouga, onde se localizam 80% das empresas. Os mais de mil milhões de euros exportados anualmente pelo nosso país representam cerca de dois terços do comércio mundial desta matéria-prima, com as rolhas a serem o principal produto vendido para o exterior.
Vinhos e azeites
É no Alentejo que se produz o Pera Manca, uma das marcas mais prestigiadas de vinho cá e lá fora, que é apenas um exemplo dos bons vinhos que este território faz, em cada uma das suas denominações de origem e desde as suas zonas mais interiores até à proximidade do Atlântico. Não é de estranhar, por isso, que as exportações de vinhos do Alentejo para o Brasil tenham duplicado entre 2016 e 2019, para os 2,6 milhões de litros.
A maior disponibilidade de água resultante da entrada em funcionamento do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva e de outros investimentos públicos e privados, associada à existência de diversos empreendimentos hidroagrícolas na região, tem contribuído para o desenvolvimento e diversificação da base económica regional.
O Porto de Sines
Novas áreas de regadio, a plantação de mais de 30 mil hectares de olivais, conduzidos segundo métodos modernos de exploração, e a reconversão das plantações tradicionais têm contribuído para a afirmação do Alentejo como a maior região produtora de azeitona em Portugal. A qualidade dos azeites que coloca no mercado, em paralelo com outras denominações nacionais, contribuiu também para triplicar a cadeia de valor desta matéria-prima, que passou a valer cerca de 450 milhões de euros, diz o estudo Alentejo: A Liderar a Olivicultura Moderna Internacional, apresentado em Beja na 6.ª edição das Jornadas da Olivum - Associação de Olivicultores do Sul, no final do ano passado.
Para além do vinho e do azeite, começa a destacar-se a produção de frutos como as framboesas, os mirtilos e as amoras, em grandes extensões, sobretudo no litoral. É aqui que fica o Porto de Sines, líder nacional na quantidade de mercadorias movimentadas e principal porto na fachada ibero-atlântica, cujas características geofísicas têm contribuído para a sua consolidação como ativo estratégico nacional. É a principal porta de abastecimento energético do país, incluindo petróleo e derivados, carvão e gás natural, e um importante porto de carga geral contentorizada, com elevado potencial de crescimento para se tornar numa referência ibérica, europeia e até mundial.
Indústria química e aviação
Com ligações ferroviárias diretas aos portos secos do seu hinterland, Sines é atualmente a principal plataforma ferroviária de mercadorias do sistema portuário nacional, integrando o Corredor Atlântico da Rede Transeuropeia de Transportes. A sua importância como porto de exportação também está a crescer. É hoje o principal ponto de saída de produtos agrícolas a granel para o Brasil, mas também das peças que a Embraer, fabricante internacional de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares, entre outros, produz no Parque de Indústria Aeronáutica de Évora. Sines, a cidade onde o porto está instalado, é uma referência na indústria petroquímica, não só por estarem localizadas no concelho a maior, e agora única, refinaria do país, da Galp Energia, e uma das maiores petroquímicas nacionais, a da Repsol, mas também pela existência de unidades industriais da Air Liquide e da Artlant, por exemplo.
Longe da imagem dos anos 60 do século passado, do Alentejo como celeiro de Portugal, com zonas sobre-exploradas pela cultura cerealífera de sequeiro, em consorciação com montados de sobro e azinho, o Alentejo mudou para melhor. Diversificou, apostando ainda mais na produção de vinho e azeite de qualidade, na plantação de mais áreas de floresta, com um melhor maneio, e numa agricultura intensiva na área de regadio do Alqueva e no litoral.
Convite aos turistas
Hoje, a grande albufeira interior é mais um motivo de visita a uma região com muitos atrativos, que tem contribuído para a chegada de mais turistas, número que se espera que cresça no período pós-pandemia. Além da sua produção agrícola e extrativa, a presença do Porto de Sines no litoral atlântico deste território tem contribuído para alicerçar a região em termos económicos, não só como via de entrada para produtos energéticos e outras mercadorias, mas também como ponto de embarque para exportação para o continente americano. Melhores ligações ferroviárias à Europa e um maior desenvolvimento do Aeroporto de Beja contribuirão certamente para uma evolução positiva dos negócios do Alentejo e das suas empresas e pessoas.