HFZ-Ovar, um Hospital do SNS centrado na sua transformação digital
Luís Miguel Ferreira, Presidente do Conselho Diretivo do Hospital de Ovar (HFZ-Ovar)
Consciente dos desafios atuais dos sistemas informáticos da saúde, o HFZ-Ovar, em parceria com a Prologica, adopta a plataforma de Business Intelligence, MELIORA, com o propósito de se transformar num hospital data-driven.
Considera importante para a gestão hospitalar do HFZ-Ovar a utilização de soluções de Business Intelligence? Porquê?
Considero muito importante. Num hospital existe um conjunto vasto de ferramentas informáticas que, diariamente, geram imensos dados e imensa informação, desde a componente clínica à administrativa. O que acontece é que muita dessa informação está adormecida nos servidores, sem que se consiga extrair valor ou gerar qualquer tipo de conhecimento que possa ser útil ao “negócio”. A implementação de uma solução de Business Intelligence (BI) permitirá ajudar a organização a dar utilidade a muita dessa informação que, de outra forma, seria muito difícil de tratar, digerir e rentabilizar no processo de decisão e de melhoria do desempenho da própria organização.
Qual tem sido a experiência das equipas do HFZ-Ovar no processo de implementação da plataforma MELIORA da Prologica?
O Hospital de Ovar, desde que o atual Conselho Diretivo tomou posse em setembro de 2017, tem apostado fortemente na desmaterialização de registos e processos, através da execução do projeto HOSP: Hospital de Ovar sem Papel que nos permitiu já alcançar resultados importantes. Aliás, com este projeto, o Hospital de Ovar conquistou, inclusivamente, o prestigiado Prémio Saúde Sustentável 2019, da Sanofi/Jornal de Negócios.
Claro que a abertura dos colaboradores do Hospital à mudança foi, neste percurso, essencial para conseguirmos transformar processos, pelo que a tecnologia pouco importaria caso não encontrássemos nos nossos colaboradores essa postura aberta. Ainda assim, claro que muito do que tem sido feito no Hospital no contexto deste projeto passou também pela adoção de tecnologia facilitadora do dia a dia da organização, como foi o caso da plataforma MELIORA.
Esta plataforma tentou, inicialmente, responder às necessidades diárias da equipa de gestão de topo, tanto mais que o acesso à informação da produção hospitalar nas mais variadas áreas estava bastante condicionado. Quem conhece o SONHO saberá do que estou a falar. Hoje em dia, a generalização do acesso à plataforma continua a decorrer, sendo este um processo gradual que vamos continuar a desenvolver com segurança mas com determinação.
Com a utilização da plataforma MELIORA, que tipo de vantagens já identificaram e que outras contam identificar brevemente para a prática clínica e administrativa?
A utilização desta ferramenta permite-me, desde logo uma coisa muito simples: não precisar de ligar aos serviços para saber quantas cirurgias foram realizadas o mês passado em comparação com o mês homólogo de um ano anterior, ou quanto foi gasto mensalmente em transportes não urgentes desde o início do ano. Esta liberdade no acesso à informação é muito importante para quem decide e essa é, de facto, uma vantagem enorme. Obviamente que a utilização da informação, de forma amigável, que geramos diariamente permitirá, no futuro, aos responsáveis pelos vários serviços perceber melhor as dinâmicas e os constrangimentos de forma mais segmentada, no sentido da adoção de medidas que potenciem os recursos e melhorem a atividade e o desempenho coletivo.
Que soluções de Inteligência Artificial reconhece como essenciais para a evolução dos cuidados de saúde?
A aplicação da Inteligência Artificial (IA) na saúde vai ser, no futuro, cada vez mais uma evidência, tais são os ganhos para o conhecimento e para a investigação. Com ferramentas de IA, para além de sermos capazes de armazenar e manipular enormes quantidades de dados, conseguiremos gerar, deduzir e inferir conhecimento novo que nos permitirá resolver problemas antigos e que surgirão neste percurso. Na área da saúde, a IA poderá, de facto, contribuir para encontrarmos soluções para questões clínicas complexas, através da análise de grandes quantidades de dados gerados, a toda a hora, nas instituições de saúde.
A uma outra escala, por exemplo nesta fase de pandemia, é muito importante conhecermos a realidade com a utilização de todos os dados que se vão gerando para conseguirmos, com modelos e metodologias cientificamente robustas, antecipar cenários e tomar decisões que invertam tendências e atendam a contextos mais ou menos difíceis que venham a ocorrer. Daí que, na linha da inovação que temos tentado imprimir no Hospital de Ovar, tenhamos participado num consórcio que desenvolveu um projeto financiado pela FCT que, na prática, criou uma ferramenta preditiva que avalia uma escala de risco hospitalar e define planos de contingência a aplicar consoante o comportamento evolutivo da epidemia de COVID19 para o HFZ-Ovar.