Falta pensamento estratégico ao sector da saúde
Vasco Jorge, gestor da Biols Pharmaceuticals
Proatividade, capacidade de prever evoluções e antecipar tendências são algumas das necessidade do sector para sustentar o seu futuro
V asco Jorge, gestor da Biols Pharmaceuticals, diz que as políticas dos sucessivos governos têm destruído a indústria e desmobilizado a captação do investimento ao longo dos últimos 20 anos, criando um desequilíbrio na balança comercial e tornando Portugal absolutamente refém de importações na área de produtos farmacêuticos e equipamentos de proteção individuais (EPI).
Durante o período inicial de expansão da pandemia em Portugal, sentiram-se deficiências nas cadeias de produção e fornecimento do sector da saúde. Como é que a Biols Pharmaceuticals procurou resolver o problema?
As cadeias de produção e fornecimento estão dimensionadas com base em rácios de população, incidência de patologia por número de habitantes e quotas de mercado para, em condições normais, não haver deficiências de produção e fornecimento a montante e jusante da cadeia de distribuição. Contudo, numa situação tão anormal como a da Covid-19 salientou-se a impreparação, ausência de planeamento estratégico e de capacidade de resposta, em especial por parte do Estado. Notou-se também que os parques hospitalares e centros de saúde são antigos e obsoletos. É neles que se concentram os recursos humanos ocupados na resposta à crise, que foram insuficientes para acudir às demais necessidades de saúde da população. À parte estes fatores, as políticas dos sucessivos governos têm destruído a indústria e desmobilizado a captação do investimento ao longo dos últimos 20 anos, criando um desequilíbrio na balança comercial e tornando Portugal absolutamente refém de importações na área de produtos farmacêuticos e EPI. Veja-se como exemplo a dificuldade de obtenção de máscaras cirúrgicas e outros EPI nesta última crise. Se houvesse uma indústria têxtil forte, poderia ter garantido um fornecimento privilegiado ao mercado português.
Qual é, para si, o futuro ideal para o sector da saúde, tendo em conta os dados que já temos?
O futuro do sector da saúde está condicionado pelo livre-arbítrio do pensamento estratégico quanto ao que fazer para ser diferente e criar valor acrescentado! As consequências da pandemia serão nefastas para a economia em geral e a saúde em particular. Neste quadro, prevejo que o sector da saúde irá responder de forma paliativa e reativa, e não da maneira que preconizo para a defesa das nossas organizações: proativa, antecipadora de tendências, assente numa solvabilidade permanente. A resposta está condicionada, em grande medida, pelo Estado. O sector, como outros em geral, é restringido pela ausência de pensamento estratégico, porque a saúde é tida como uma despesa e não como um investimento. Com a despesa pública elevada e um país empobrecido, sem capacidade produtiva geradora de valor acrescentado que permita a sua sustentabilidade sistemática, o sector da saúde sofrerá fortes constrangimentos, que apenas os agentes económicos mais bem preparados poderão enfrentar e superar.
O que é a Biols Pharmaceuticals?
A LS Enterprises é um cluster de saúde independente, português, que gere um portefólio diversificado de negócios e serviços em várias geografias. A diversificação e a inovação têm sido o fio condutor do desenvolvimento deste grupo, que teve, no ano passado, um volume de negócios superior a 23 milhões de euros.
No universo LS Enterprises destaca-se a Biols Pharmaceuticals, empresa de distribuição farmacêutica com uma das maiores dinâmicas de crescimento no mercado de distribuição farmacêutica, em resultado da parceria tripartida que estabeleceu com a indústria farmacêutica, farmácias e hospitais em Portugal. “O fornecimento à área hospitalar é feito tanto a hospitais privados como públicos, embora estes últimos sejam cada vez menos cumpridores, o que, especialmente em tempo de crise, agrava ainda mais a situação débil de algumas empresas do sector e da própria indústria, que tem encontrado na Biols Pharmaceuticals a substituição do tradicional modelo de fornecimento direto”, diz Vasco Jorge, gestor da empresa.