Relações de excelência
Feitas de ciclos, as fortes relações económico-comerciais bilaterais entre a Alemanha e Portugal estão patentes na importância do investimento alemão no nosso país e no volume da balança comercial entre ambos os países.
Estratégias de longo prazo, paciência, transparência e resiliência... Estes são alguns dos termos mais frequentemente usados por quem trabalha com o mercado alemão para caracterizar o espírito que deve acompanhar as empresas portuguesas que se aventuram na internacionalização dos seus produtos e serviços para a Alemanha. O cliente alemão é exigente, mas, uma vez conquistado, pode ser um cliente para a vida. Esta é a tónica dominante. A história comercial entre ambos tem consolidado esta tendência, ou não fosse a Alemanha um dos principais países clientes dos bens e serviços portugueses e origem de grandes empresas instaladas à longa data no mercado português, com significativo impacto na economia nacional.
Aliás, o número de empresas de origem alemã que escolheram Portugal para investir e instalar as suas operações ronda atualmente as 480, dos mais variados setores de atividade, e assegura um volume de vendas e de serviços na ordem de 12 mil milhões de euros.
A qualidade dos recursos continua a ser um dos argumentos favoráveis ao nosso país, tal como a rede de infraestruturas e a capacidade digital, isto sem esquecer a localização geográfica, que permite ser uma rampa de lançamento para as empresas alemãs atentas aos mercados africanos e da América Latina.
Já a competitividade empresarial portuguesa na Alemanha continua a desbravar caminho e a marcar pontos em algumas áreas, com destaque para a agroalimentar, e com algumas empresas a verem os seus esforços de internacionalização reconhecidos.
Compras e vendas
De janeiro a maio deste ano, a Alemanha ocupou a terceira posição na lista dos principais países clientes de Portugal, com 11,4% do total (4254 milhões de euros), logo a seguir a Espanha, que lidera a lista, com 20,9% (7790 milhões de euros) e a França, que somou 13,4% (4990 milhões de euros).
Os dados são da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tendo como fonte o Banco de Portugal. Face a igual período do ano passado, ou seja, de janeiro a maio de 2018, a variação foi de 5,5%. Por outro lado, os bens, com 71,2%, lideram nas compras do cliente Alemanha a Portugal, em detrimento dos serviços, que ficaram por 28,8%.
Já na relação inversa Portugal perde pontos, ou seja, enquanto cliente da Alemanha, nos primeiros cinco meses de 2019 as importações rondaram 13,3% (5186 milhões de euros), o que representa uma variação de 11,2 % relativamente aos mesmos meses do ano passado.
Porto lidera em número de empresas exportadoras
No conjunto das 2846 organizações que exportam para a Alemanha, de acordo com os dados mais recentes apurados pela Iberinform, a maior fatia está concentrada no distrito do Porto: 700 empresas, que representam 25% do total. Ainda no âmbito da caracterização por distrito, na segunda posição está o distrito de Braga, com 589 empresas exportadoras para o mercado alemão, seguindo-se Aveiro, com 498, Lisboa, com 301, e Leiria, com 252 firmas. Se olharmos para os setores de atividade predominantes, estes são consistentes com os últimos anos: na frente estão as indústrias transformadoras, com 2070 empresas (73%), seguidas pelo setor do comércio por grosso e a retalho e o de reparação de veículos automóveis e motociclos, com 606 empresas.
CCILA: apoio e dinamização
Criada com o objetivo de promover as relações económicas entre Portugal e a Alemanha, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA) tem assumido um papel de relevo no apoio e nas relações bilaterais entre as empresas dos dois países.
Atualmente com mais de mil associados, cerca de 800 em Portugal e 200 na Alemanha, e um número menor em países como Espanha, Luxemburgo ou Áustria e outros, a CCILA apoia as empresas nos seus processos de internacionalização, o que passa pela disponibilização de um conjunto de serviços que podem ir desde a consultoria, serviços de âmbito jurídico e fiscal, como também a formação profissional.
A sua proximidade com o tecido empresarial permite à CCILA identificar oportunidades e dar um contributo decisivo para a formação das relações bilaterais. Aliás, nos anos 80 e 90 do século passado, através da promoção de Portugal junto dos empresários alemães, a Câmara deu um impulso decisivo para o boom do investimento alemão no nosso país, lembra Miguel Leichsenring-Franco, presidente do Conselho Diretor (ver entrevista nas páginas seguintes). No sentido oposto, numerosas empresas de construção portuguesas encontraram, através da Câmara, um novo mercado na Alemanha, quando aquele país iniciou uma fase de reconstrução após a reunificação.
A presença da CCILA na rede internacional das câmaras de comércio e indústria alemãs – que se estende a 140 locais, com um total de cerca de 51 mil empresas associadas, e trabalha em estreita associação com as 79 câmaras de comércio e indústria regionais – assegura ainda que as oportunidades fora do mercado português ou alemão possam ser consideradas.