A energia para sustentar o futuro
Anabela Antunes, diretora de Operações da PRIO
O poder político, local e central deve dar o exemplo, apostando nas energias mais sustentáveis e dando preferência às que melhor se adaptam às condições nacionais
A nabela Antunes, diretora de Operações da PRIO, acredita que a transição energética em Portugal poderá acelerar se o país aumentar o contributo dos biocombustíveis na mobilidade. “Mas o desenvolvimento do mix energético vai depender muito das necessidades do mercado e das ofertas mais viáveis em termos económicos para a transição energética.”
O paradigma energético em Portugal e no mundo está a mudar. Qual será o previsível e o mais sustentável daqui a 10 anos?
Ao longo da história da humanidade temos assistido a evoluções tecnológicas significativas e, com isso, mudanças de comportamentos e hábitos da sociedade.
Hoje estamos a mudar para um mundo mais sustentável nas frentes tecnológica, regulamentar e social, porque não é possível dissociá-las. Num futuro próximo, a produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis irá ganhar ainda mais força. Os biocombustíveis líquidos, produzidos a partir de resíduos, irão escalar e gases renováveis, como o hidrogénio e o biometano, serão uma realidade já nos próximos 10 anos. Para além disso, os combustíveis sintéticos também farão parte do portefólio do futuro, porque, se quisermos eliminar os combustíveis fósseis, o reaproveitamento de todos os resíduos e um foco intenso na economia circular pode não ser suficiente para descarbonizar todo o sector dos transportes, sobretudo o marítimo e o aéreo. Por isso será necessário pensar em todas as formas de energia disponíveis para suprir as necessidades do futuro. O seu grau de penetração no mercado estará dependente da maturidade das tecnologias e da sua industrialização, das políticas para apoiar o desenvolvimento de tecnologias emergentes de baixo carbono, da regulamentação e das empresas e da sociedade, como agentes de mudança para um mundo mais sustentável.
Acredito também que a produção de energia deslocalizada, essencialmente para autoconsumo, irá crescer de forma significativa. Mas o desenvolvimento de todo este mix energético vai depender muito das necessidades do mercado e das ofertas mais viáveis. em termos económicos, para a transição energética.
Quais são os principais caminhos para uma mobilidade mais sustentável?
Não podemos aplicar receitas na mobilidade, porque o que é válido numa determinada área geográfica pode não fazer sentido noutra. Por isso temos de olhar para as infraestruturas disponíveis, os recursos, as matérias-primas que podemos transformar e fazer uma aposta clara na economia circular. A solução não passa por uma ou outra tecnologia, mas sim pelo mix energético mais favorável para o país. O nosso dependerá, acima de tudo, da indústria instalada.
Na PRIO acreditamos que podemos acelerar a transição energética na mobilidade se aumentarmos o contributo dos biocombustíveis avançados. Sabemos que os veículos pesados são menos eletrificáveis do que os ligeiros e que é possível migrar, no imediato, para uma redução de emissões de CO2 significativa, porque existem muitos veículos aptos para receber misturas mais ricas em biocombustíveis. Além disso, a sua utilização incrementa a economia circular do sector da energia em Portugal.
Apesar dos avanços para a transição energética no país, ainda existem vários obstáculos a superar. Ao nível regulamentar é necessário acelerar todas as aprovações de novos biocombustíveis, sem descurar, no entanto, a segurança e a qualidade do que é oferecido aos utilizadores. Também é preciso promover políticas que incentivem as empresas e a sociedade a usarem cada vez mais biocombustíveis amigos do ambiente. O poder político, local e central deve dar o exemplo, apostando em novas formas de energias, sem preferência por nenhum tipo de tecnologia. Assim, o que perspetivamos para o futuro é um sector da energia em efervescência. Tanto os biocombustíveis como as misturas mais ricas serão uma realidade, a par dos veículos elétricos e dos movidos a combustíveis sintéticos.
“É preciso promover políticas que incentivem as empresas e a sociedade a usarem cada vez mais biocombustíveis”
As empresas em geral, e em particular as do sector energético, devem procurar perceber qual a sua exposição aos riscos causados pelas mudanças climáticas e estabelecer formas de diminuir as suas emissões e a sua pegada ecológica, ao mesmo tempo que mantêm a sustentabilidade dos seus negócios. De que forma é que a PRIO tem feito esse caminho?
O foco da PRIO é a constante otimização da tecnologia instalada e a procura de soluções que contribuam para superar os desafios da transição energética. Por isso desenvolvemos produtos para responder às necessidades dos consumidores que, ao mesmo tempo, contribuem para a transição energética e impulsionam a economia circular.
Produzimos biocombustíveis avançados a partir de resíduos, mais sustentáveis, como os que são provenientes do tratamento de óleos alimentares usados. Emitem menos cerca de 80% de CO2 do que o gasóleo tradicional. A pensar nos veículos pesados, desenvolvemos o ZeroDiesel, combustível líquido 100% sustentável, que permite reduções de 84% das emissões de gases com efeito de estufa. Desenvolvemos também combustível verde para navios, o PRIO EcoBunkers, que, à semelhança do PRIO EcoDiesel, é composto por 15% de biodiesel sustentável. A empresa disponibiliza também eletricidade verde através dos seus postos de carregamento para veículos elétricos. Para o futuro, ambiciona oferecer mais soluções, como o biometano, o bioetanol, o hidrogénio verde e outras que possam surgir.
A fábrica de biocombustíveis da PRIO em Aveiro é a maior produtora nacional de biodiesel a partir de matérias-primas residuais
O futuro da empresa passa também pelo investimento numa economia cada vez mais circular? Porquê?
Na PRIO procuramos, desde o início, encontrar soluções para a mobilidade de um futuro que tem de ser obrigatoriamente sustentável. E a nossa aposta na economia circular é clara.
Na nossa fábrica de biocombustíveis, em Aveiro, somos a maior produtora de biocombustíveis em Portugal, como o biodiesel a partir de matérias-primas residuais. Foi inicialmente construída para trabalhar com óleos vegetais virgens, mas a PRIO investiu depois na sua transformação numa unidade de tratamento e processamento de óleos alimentares usados para produção de biocombustíveis. O sucesso do projeto deve-se à equipa fantástica que trabalha connosco, empenhada em fazer melhor todos os dias e em procurar constantemente novas soluções.
Para além da aposta em matérias-primas residuais para produção de biocombustíveis sustentáveis, a empresa organiza anualmente o PRIO Jump Start, programa de aceleração de start-ups na área da economia circular, como é o caso do projeto EcoBean, que aproveita as borras de café para a obtenção de óleo para a produção de biodiesel e utiliza a restante parte para a produção de briquetes para churrasco e lareiras.
Estamos atualmente a trabalhar com vários parceiros num projeto de investigação & desenvolvimento para o aproveitamento dos resíduos celulósicos e florestais para a produção de outro biocombustível, o bioetanol. A economia circular tem como prioridades a reciclagem, reutilização e renovação. É isso que procuramos fazer na PRIO. Como queremos que o mundo seja mais sustentável, estamos envolvidos, de forma empenhada, no processo de transformação que está a decorrer para se chegar a esse objetivo.