Uma evolução sensata
As empresas estão a usar a transformação digital para automatizar os seus sistemas, poupar dinheiro, impulsionar a inovação e, naturalmente, fazer crescer os seus negócios
C om novas tecnologias surgem coisas novas e outras formas de fazer. A transformação digital não é apenas uma tendência, é uma realidade cada vez mais atual, que está a mudar a forma como os negócios são feitos e, em alguns casos, a ajudar a criar novas áreas de negócio. Está a fazer com que as empresas deem um passo atrás para analisar tudo o que fazem, desde os processos internos até à forma como interagem com fornecedores e clientes, na procura de mudar métodos para tomarem melhores decisões, mais eficientes, e poderem construir, entre outros, uma experiência do cliente mais personalizada e melhor.
A transformação digital incentiva a procura de inovação, a experimentação, o desafio constante ao statu quo, mas também implica a aceitação do fracasso, a constante procura de novos caminhos para encontrar soluções, a resiliência.
Em princípio, deverá decorrer de forma faseada em todos os níveis e funções das empresas e terá como consequência a mudança da forma como cada uma opera e entrega valor aos seus clientes. Em sentido mais vasto, implica a mudança cultural, organizacional e operacional de empresas, grupos ou sectores da economia, através da integração inteligente de processos, competências e tecnologias digitais.
Inteligência e eficácia
Numa altura em que o mundo está a avançar cada vez mais para a era digital, há empresas a criar formas cada vez mais inteligentes, eficazes e disruptivas para alavancar a tecnologia. Um exemplo reconhecido disso é o da Netflix. Começou, há 25 anos, como serviço de aluguer de DVD, pelo correio, nos Estados Unidos, com 925 títulos disponíveis. Cinco anos depois enviava 190 mil discos por semana aos seus mais de 600 mil assinantes, número que tinha crescido para os 14 milhões em 2010. Foi a partir desta data que começou a oferecer também serviços de streaming através da internet e hoje está presente em quase todo o mundo, onde tem mais de 220 milhões de assinantes. Produz e transmite séries e filmes de televisão, concorrendo com estúdios de produção e redes tradicionais de televisão por cabo, e oferece um portefólio crescente de conteúdos a preços competitivos.
Processo de adaptação
Na verdade, a transformação digital não diz respeito apenas a disrupção, tecnologia e inovação. É muito mais do que isso. É uma evolução inteligente orientada para as pessoas, um processo de adaptação e otimização que gira em torno destas para criar valor.
Hoje, podemos dizer que existiu um mundo antes da pandemia da covid-19 e já está a começar outro. Ao nível do ambiente, da forma como produzimos e consumimos energia, da saúde, da maneira como se encara o trabalho e os negócios.
O confinamento de muitas pessoas em todos os países do mundo fez despertar, ainda mais em cada um de nós e nas empresas, a necessidade de transformação digital. Mas não a todo o custo, pois tem de ser uma evolução inteligente, orientada para as pessoas, um processo de adaptação e otimização que tem de girar em torno destas para conseguir criar valor. É a isso que este especial da EXAME procura responder, contando histórias sobre o que está a acontecer em organizações dos diversos sectores da economia, sentindo quais são as suas necessidades e procurando vislumbrar quais são os caminhos que estão, ou pretendem estar, a tomar em direção ao futuro.
A criação crescente de dados, a partir dos quais se podem extrair informações, permite aumentar o conhecimento científico, social e económico de empresas e outras organizações. Mas para se extrair valor é necessário preparar as equipas e as suas pessoas. Isso deve ser feito com base na implementação de uma mudança efetiva, bem gerida, de mentalidades e formas de trabalhar, para passarem a focar-se nas necessidades de cada negócio e terem a capacidade de operar a componente técnica. Como a transformação digital implica que haja mais conhecimento, vamos procurar também saber quais os caminhos que têm de ser feitos para formar e treinar os colaboradores das empresas e quais as áreas do conhecimento mais necessárias para o mercado.
Uma questão de sobrevivência
A política de confinamento aumentou a necessidade de digitalização das empresas, principalmente para facilitar o dia a dia de trabalho das suas equipas, deslocalizadas por causa da pandemia, e, consequentemente, fez crescer os investimentos nesta área. Mas os que estão a ser feitos em transformação digital procuram muito mais do que suprir as necessidades de comunicação das pessoas das empresas, umas com as outras e com fornecedores e clientes, de forma fluida e fácil através dos meios digitais. Procuram que isso decorra de forma segura, algo essencial nos dias que correm, e identificar e implementar sistemas para tornar os processos burocráticos das organizações mais simples, ágeis e eficientes.
Uma empresa pode assumir a transformação digital por vários motivos. Mas, de longe, o mais provável é ser uma questão de sobrevivência. Na esteira da pandemia, a capacidade de as organizações se adaptarem rapidamente às interrupções da cadeia de fornecimento, às pressões do tempo para o mercado e às mudanças rápidas nas expectativas dos clientes é cada vez mais crítica.