Capital humano com prioridade máxima!
Gerir pessoas continua a ser o desafio maior de uma liderança empresarial. A relação entre as empresas e os trabalhadores vive uma mudança acelerada, com os primeiros a priorizarem o bem-estar organizacional das equipas em prol da produtividade e sucesso da empresa. Já os colaboradores procuram cada vez mais o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
V ivem-se tempos intensos no mundo empresarial e, como peça fundamental na engrenagem, os trabalhadores estão cada vez mais no topo das preocupações das empresas. O desafio de bem gerir as “suas pessoas”, numa altura em que o teletrabalho passou a ser uma realidade, em que o bem-estar dos colaboradores e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se acentuaram, as empresas, concretamente os seus departamentos de recursos humanos, têm em mãos uma tarefa complexa para que a produtividade e desempenho empresarial não sofra danos.
Modelos de trabalho em discussão
O teletrabalho passou a fazer parte das novas opções que as firmas agora oferecem aos trabalhadores. Os confinamentos a que a pandemia de covid-19 obrigou, em 2020 e este ano, afastaram os trabalhadores, aqueles cuja atividade o permitiu, das empresas, dos escritórios, e obrigaram à implementação de novos modelos de trabalho: o teletrabalho, o trabalho remoto e híbrido.
Atualmente, o cenário dominante em alguns sectores de atividade passa pela adoção de um modelo de trabalho flexível, ou seja, com a semana de trabalho dividida entre dias passados no escritório e outros em teletrabalho. De acordo com um estudo efetuado pela Mercer, o Flexible Work Survey 2021, o trabalho flexível é uma tendência que veio para ficar e uma realidade nas empresas portuguesas. Segundo esta pesquisa, que foi realizada entre maio e junho deste ano, três quartos das organizações em Portugal pretendem implementar um modelo de trabalho híbrido. Os modelos de trabalho mudaram e as exigências do negócio e das pessoas acentuaram-se. Perante esta nova realidade, a flexibilidade pode ser uma vantagem competitiva e um fator diferenciador na proposta de valor para os colaboradores das empresas, refere o estudo da Mercer.
O Flexible Work Survey 2021 concluiu que 71% das empresas pretendem aderir à flexibilidade horária, 75% planeiam oferecer um modelo híbrido como parte da política de trabalho flexível e 33% equacionam disponibilizar o trabalho remoto em full-time. Por outro lado, 46% das empresas inquiridas no estudo afirmaram querer fazer alterações nos seus espaços físicos nos próximos cinco anos. Pretendem tornar os escritórios mais eficientes, diminuir os espaços/edifícios, dos gabinetes individuais ou mudar para espaços mais colaborativos, como open offices. Mas as expectativas quanto aos modelos de trabalho parecem variar em função do cargo ocupado. Um estudo internacional da Slack revela que os chefes estão mais ansiosos para voltar ao escritório do que os funcionários. Mais: dos superiores que trabalham remotamente, 75% querem ficar no escritório três dias por semana e apenas 34% dos funcionários sem cargos de chefia pensam da mesma forma. Por outro lado, 44% dos chefes gostariam de voltar a trabalhar presencialmente todos os dias, contra 17% dos funcionários.
As razões apontadas por uns e outros são diferentes. A chefia quer um local calmo para estar concentrada no seu trabalho e quer colaborar com os colegas de forma presencial. Os restantes funcionários preferem o trabalho remoto para evitar as deslocações.
Saúde mental na ordem do dia
Nunca se falou tanto de saúde mental no espaço laboral como no último ano e meio. A pandemia e as alterações laborais a que esta obrigou – concretamente os confinamentos, o trabalho em casa e o stress associado à incerteza do futuro – trouxeram o tema para a ordem do dia. Os trabalhadores do sexo feminino, por exemplo, surgem como os mais afetados pelo fenómeno do burnout durante a pandemia; foram quem, devido à carga profissional e pessoal, mais sofreu de stress e esgotamento.
Uma pesquisa recente da McKinsey & Company revelou que um terço das mulheres inquiridas equaciona reduzir a sua carreira profissional ou mesmo abandonar o mercado de trabalho. O Women in the Workplace mostra que um terço das mulheres considera a possibilidade de reduzir a sua carreira ou, inclusive, de abandonar por completo o mercado de trabalho, uma situação a que as empresas precisam de reagir.
O impacto da saúde mental nas empresas é tão significativo que a própria Direção-Geral da Saúde (DGS), através do Programa Nacional de Saúde Ocupacional, lançou um guia sobre a “vigilância da saúde dos trabalhadores expostos a fatores de risco psicossocial no local de trabalho”, um documento que tem como finalidade melhorar a intervenção preventiva em contexto laboral. Nele são identificados alguns dos principais fatores de risco, bem como os instrumentos que podem ser usados para avaliação de risco, as metodologias de avaliação e identificação de situações prioritárias e de emergência, bem como os processos de referenciação no caso de trabalhadores com potenciais perturbações mentais moderadas ou graves.
São comuns entre os trabalhadores situações de stress, depressão, ansiedade ou burnout provocados quer pela pressão para responder às exigências do trabalho moderno, quer pela atual situação de pandemia. O guia contempla também situações como conflitos laborais, assédio, violência física ou mobbing, que podem ter reflexos na subida do absentismo laboral, nos baixos níveis motivação de produtividade dos trabalhadores e, no limite, na perda do capital humano.
Global Wellbeing Survey 2021 analisa bem-estar
dos colaboradores
Portugal está na lista dos países que privilegia o bem-estar dos colaboradores, segundo o Global Wellbeing Survey 2021. Este estudo, que tem como objetivo comprovar que a implementação de estratégias de bem-estar nas empresas tem reflexos positivos no seu desempenho, concluiu que, a par do Brasil e da Índia, as empresas nacionais são as que implementam mais estratégias de bem-estar. Aliás, de acordo com o relatório, com apenas 4% de melhoria nos programas de bem-estar pode alcançar-se 1% de crescimento dos lucros e, simultaneamente, um decréscimo de 1% na rotatividade de colaboradores.
No conjunto da EMEA, as empresas portuguesas são as que têm maior probabilidade de ter uma estratégia de bem-estar integrada com o seu negócio e políticas de talento (26%). Seguem-se, com 24%, a Polónia, a África do Sul e a Irlanda.
O nível de investimento neste domínio (51%), a dificuldade de avaliação do retorno das ações de promoção do bem-estar (44%) e os baixos níveis de engagement e de interesse dos colaboradores para iniciativas de bem-estar (42%) são algumas das barreiras apontadas pelo Global Wellbeing Survey à adoção plena de programas de bem-estar nas empresas. Desenvolvido pela Aon, em parceria com a IPSOS, o Global Wellbeing Survey 2021 contemplou 1.648 empresas em 41 países.