No poupar é que está o ganho!
O nível de poupança dos portugueses aumentou no último ano, de acordo com os dados oficiais. A pandemia parece ter ativado o comportamento aforrador de milhões de portugueses e também vemos surgir novas soluções e ferramentas financeiras para canalizar essas poupanças
A palavra poupança voltou a fazer parte do vocabulário dos portugueses com o aparecimento da pandemia. Ainda em agosto, os números divulgados na imprensa nacional revelavam que os portugueses duplicaram poupanças desde o início da pandemia. Entre março de 2020 e junho de 2021, o valor aplicado em depósitos, certificados e fundos mais do que duplicou, avançava na altura o jornal Público. O que os portugueses aplicaram em depósitos, fundos de investimento e certificados do Estado totalizou €22.736 milhões em junho deste ano, um montante que representa um aumento de 118%, ou de €12.286 milhões, face às poupanças alcançadas em igual período de 2018 e de 2019. Também o 3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, da responsabilidade do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), relativo a 2020, revela que os portugueses estão mais ativos a investir poupanças, até em criptoativos, como as criptomoedas ou initial coin offerings (ICO).
Mais riqueza, moeda e depósitos
A verdade é que as pesquisas que têm vindo a ser efetuadas nos últimos meses revelam dados pertinentes relativamente ao fator poupança. De acordo com o estudo Global Wealth 2021: When Clients Take the Lead (https://on.bcg.com/3lOMkI2), do Boston Consulting Group (BCG), apesar do impacto financeiro da pandemia, a riqueza global cresceu significativamente e é expectável que continue a crescer ao longo dos próximos cinco anos. O aumento da poupança das famílias e a resiliência dos mercados à pandemia foram os principais contributos para que a riqueza global tenha atingido os 250 biliões de dólares.
Portugal parece ter seguido a tendência global, já que o crescimento do nível de riqueza foi de 2% face a 2020, sendo que a perspetiva é que cresça 3% ao ano até 2025. Segundo o referido relatório, entre 2015 e 2020 o nível de riqueza no nosso país subiu 2,7% ao ano, atingindo os 0,6 biliões de dólares.
Mas os dados deste relatório vão mais longe. Revelam ainda que em 2020 Portugal representou 1,1% da riqueza e 0,8% dos ativos tangíveis da Europa Ocidental. No último ano, o país mostrou um crescimento moderado de riqueza, ficando abaixo dos 5% verificados na região, mas mostra melhores resultados em relação aos ativos tangíveis, tendo verificado um aumento de 6% face aos 4% do contexto europeu. Até 2025, é expectável que cresça 4%, acima dos 2% da região.
À semelhança do ano anterior, em Portugal a moeda e depósitos são a classe de ativos predominante, perfazendo 46% do total de riqueza, acima do verificado na Europa Ocidental (30%) e no mundo (28%). O relatório da BCG estima, no entanto, que o investimento em ações e fundos de investimento, o segundo ativo na escala (30%), cresça mais rapidamente, a 3,2% ao ano, nos próximos cinco anos, e que os seguros de vida e pensões se mantenham a terceira maior classe de ativos no futuro.
Outro dado relevante desta análise aponta para que a maioria da riqueza em Portugal continue a ser detida pelos que possuem menos de €250 mil (51%).
Fintechs, tecnologia ao serviço do mercado financeiro
Com a crescente literacia financeira e o ambiente global de juros baixos, são mais as pessoas propensas a investir as suas poupanças em vez de simplesmente mantê-las em contas bancárias. Por isso não é de estranhar o surgimento de novas soluções, mais flexíveis, para proporcionar aos clientes uma visão consolidada das suas contas financeiras. Conhecidas por utilizarem a tecnologia na criação de soluções inovadoras no sector financeiro, as fintechs têm vindo a conquistar mercado e a despertar a atenção dos gigantes do mercado financeiro. Com as suas propostas inovadoras, centradas em produtos e serviços digitais, este tipo de startups mudaram o paradigma deste mercado, até há poucos anos centrado na banca tradicional.
A transformação é gigantesca e as perspetivas para este segmento do mercado financeiro são avassaladoras. A Universidade Católica Portuguesa, através do seu Venture Capital Club, realizou um estudo, com o apoio da Bynd Venture Capital, sobre as tendências que vão afetar o mercado das fintechs nos próximos anos, uma análise que identificou algumas macrotendências.
Uma dessas tendências são as finanças autónomas. Ou seja, o aumento na procura de processos digitais que possibilitem autonomia financeira, por exemplo na abertura de contas ou no recurso a assinaturas digitais. Desta forma, tecnologias como inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) posicionam-se como assistentes dos chatbots na avaliação de soluções financeiras e na deteção de fraudes.
Outra das tendências apontadas pelo estudo prende-se com bancos 100% digitais, que, pela sua maior flexibilidade, estão a atrair os consumidores que querem soluções simples. A tendência para a banca exclusivamente digital foi acelerada pela pandemia e os chamados neobancos, exclusivamente digitais, souberam aproveitar o momento. A sua principal base de clientes está centrada em jovens experientes na internet que procuram gerir as suas finanças de forma simples e descomplicada.
Aqui entra em linha de conta o fator segurança, ou seja, a proteção das empresas e dos clientes no mundo digital. A literacia financeira surge também como mais uma tendência na análise da Católica, já que a educação financeira das pessoas, o conhecimento de gestão de finanças pessoais, ganha importância. São também mais as pessoas que procuram alternativas aos métodos tradicionais de empréstimo. Por isso, mostra também este estudo, o mercado dos empréstimos alternativos, como sistemas de empréstimos pessoa-a-pessoa, deve crescer mais. As principais tendências incluem soluções peer-to-peer (P2P), que ligam os mutuários diretamente aos investidores e, portanto, eliminam as instituições financeiras tradicionais como intermediários. Por outro lado, o crowdfunding é outra das soluções que leva os empreendedores a angariar dinheiro de um grande número de investidores individuais.
O mundo Cripto conquista espaço
Nos últimos tempos os conceitos de criptomoeda ou moeda digital entraram na mira de quem procura investir as suas poupanças fora dos canais tradicionais. Criadas com base na tecnologia blockchain, já existem em circulação no mundo digital moedas, como a bitcoin ou ethereum, entre muitas outras, operadas por diferentes players, que vieram agitar o mundo financeiro. A par de grandes empresas que já investem em criptomoedas e da indústria de serviços financeiros que começou a aceitar moedas virtuais como forma de pagamento, também o consumidor final mais recetivo ao risco começou a equacionar este universo como forma de aplicar algumas das suas poupanças, ao comprar criptomoedas. Considerando a crescente digitalização das decisões financeiras e das ferramentas associadas, os requisitos regulamentares estão cada vez mais na ordem do dia ou não fossem a transparência e a segurança peças fundamentais neste tabuleiro financeiro. Players de criptomoedas e legisladores estreitam a colaboração para criar uma indústria financeira mais segura, recorrendo à automação, big data e machine learning para garantir a estabilidade financeira para todos os players deste mercado.