Guerra na Ucrânia afeta paradigma energético

A invasão russa da Ucrânia afeta o clima e a biodiversidade na região onde está a decorrer e criou novos problemas no mercado energético, forçando a uma nova avaliação da transição para as energias renováveis

N os meses seguintes à invasão, parecia que as questões climáticas estavam a sair da agenda internacional e que o financiamento dos programas de redução de emissões, principalmente nos países em desenvolvimento, iria ser cortado, em parte como resultado do forte crescimento dos gastos dos países ocidentais no apoio ao esforço de guerra da Ucrânia para conter a invasão russa e para envio de bens alimentares e outros para suprir as necessidades da sua população. Nessa altura pairou a ameaça da desaceleração da descarbonização.

Mercados de energia em mudança

Mas as conversações paralelas que decorreram na 27.ª Cimeira do Clima da Organização das Nações Unidas, de novembro passado, demonstraram que esses receios eram exagerados, já que se falou sobretudo da relação da guerra na Ucrânia com as mudanças climáticas e também sobre questões de energia, segurança alimentar, destruição de ecossistemas e redução da biodiversidade. Um dos primeiros efeitos da guerra foi a transformação dos mercados globais da energia, já que muitos países mudaram de fornecedores de petróleo e gás. Estão também a construir infraestruturas para gás natural liquefeito, a reativar centrais a carvão, estão a pensar estender a vida útil das suas centrais nucleares ou a construir novas e mesmo a investir em novos projetos de produção de combustíveis fósseis.

Segurança energética

Mas as tendências de médio e longo prazo parecem manter-se, já que continua a crescer o investimento nas energias renováveis, cujas tecnologias tendem a ser mais baratas e eficientes, tal como cresce o seu papel no aprovisionamento e na segurança energética.

Por outro lado, a guerra está também a mudar os mercados globais de produção de alimentos e fertilizantes, depois de um período significativo de escassez de cereais. Por causa dos seus efeitos, vários países planeiam expandir a sua produção nesta área, o que pode representar mais uma ameaça aos ecossistemas e à biodiversidade se essa mudança for realizada sem ter em conta critérios de sustentabilidade. Há também mudanças a decorrer no sector metalúrgico global, devido à diminuição do fornecimento por parte da Ucrânia e às sanções sobre a Rússia, com impacto na extração de metais necessários para a descarbonização global e a transição energética, incluindo aço, alumínio, lítio, níquel, cobre e metais de terras raras. E não devemos esquecer que os combates, para além de ceifarem vidas, destruírem zonas urbanas extensas e diminuírem a capacidade produtiva do país, têm um impacto direto nos ecossistemas da Ucrânia.